quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Key West

Então, gente. Todo mundo anda pedindo notícias da viagem e tal, e falar tudo de uma vez fica bem mais fácil :D

Pra quem não sabe, eu tô nos EUA no tal do work experience.

Da primeira vez, ano passado, fui pro Colorado, numa cidadezinha pertiiiinho de Aspen chamada Glenwood Springs, onde obtive momentos maravilhosos. Lá era doido de frio, mas super valeu a pena: conheci muita gente legal, esquiei pra caramba, tive os melhores patrões e empregos, o melhor namorado, enfim, tudo de melhor que uma viagem pode proporcionar. Daí esse ano, meio que de saco cheio de frio e tempestades de neve (ta, Santa Catarina não tem neve, mas a chuvarada e o tempo indeciso encheram o saco), decidi vir pra Key West, pontinha da Florida.

O lugar é doidão e as pessoas, então, nem se fala. O clima é super quente e rola aquela nossa chuvinha de verão pra dar uma refrescada. A prainha que fica perto do hotel é super bonitinha... tem um trapiche com plaquinhas de “no diving” que eu passo horas escrevendo. Fica eu lá, sentadinha, confundindo botos com pelicanos e pelicanos com bóias. Bem a minha cara. Do outro lado, ali pertinho, tem o southernmost, que é o pontinho mais perto de Cuba. Tem uma placa ridícula falando que é uma homenagem aos cubanos que tentaram sair do país a nado e literalmente morreram na praia. Aí diz que foram em busca da liberdade e bababá, bem coisa de norte-americano tentando implantar na cabeça das pessoas o conceito de vida. Fiquei indignada, extasiada quando a li, mas tudo bem, esse país tem lá suas qualidades.

Ah, tô amando sair pra procurar emprego de shorts e havaiana, em clima de praia mesmo. Praia e balada. Ta parecendo férias, e realmente é, enquanto não arrumo emprego.

Os ônibus, aqui, representam outro sintoma da esquisitice keywestiana: cê encontra cada tipo de gente dentro deles que minha nossa senhora. Jamaicano retardado é normal. Tão normal que não ser louco é visto como se louco fosse. A loucura é a normalidade. E assim vai... cubano, ucraniano, búlgaro, chinês.. tem de tudo aqui, só não encontrei mexicano ainda. Ainda. Até to sentindo falta daqueles “mãdei?!”.

A Duval Street, ruazinha mais movimentada, é a confluência de toda a loucura do mundo, cês não tem noção. Pra começar, os bares todos não pagam para entrar, só o que consumir (e, claro, há aqueles dias em que nem isso se paga. Pra mulher, claro). Tem aqueles caras cantando pra ti na rua e tocando violino. Um dia, um velhinho me parou e tocou Villa-Lobos, outro, pararam a Fe e disseram (e acertaram) a idade dela, do nada. Os bares de drags queen são bizarríssimos e elas ficam na porta usando todo tipo de roupa e fantasia. Falando nisso, coisa mais normal as pessoas andarem fantasiadas, seja de dia, seja de noite. Até eu já tava pensando em aderir ao figurino, mas como a grana ta ficando curta, a gente seleciona as prioridades. Ah, e prioridade, gente do céu, coisa ta feia: sem emprego, sem casa, a gente ta passando, hein! Não há barzinho que anime a situação aqui, embora festa seja feita todo dia. Não tem como fugir. Cerveja a um dólar, garrafão de vinho a cinco dólares, reuniãozinha da galera, uma voltinha aqui, outra voltinha ali... qualquer coisa serve de motivo pra entrar no clima da cidade. Já dancei música cowboy, já pulei com jazz, já andei (leia-se: caí) em touro mecânico, já fui aos bares gays, já cantei (digo, berrei) no videokê, já brinquei com a musiquinha dos passinhos (cupid shuffle), já evoluí meu conhecimento sobre o cotidiano das prostitutas. Enfim, já fiz e já me aconteceu muuuuuita coisa doida nesses diazinhos. Parece que to aqui há um ano, e não uma semana.

E, gente, a saudade ta pegando. Não vejo a hora de voltar pra minha casinha, pro meu conforto, pros meus paizinhos com todo o carinho do mundo. Isso aqui é loucura demais até pra mim. Quem me conhece sabe que não sou nada fã dessa vida superficial de balada e tudo mais... Ta certo que curto muito um barzinho e uma doidera de vez em quando, mas só de vez em quando, já que, como diz meu pai, comigo tudo tem que ser com emoção :P Mas, sério, ainda gosto muito mais de voltar pra minha casa e saber que tem meus dvd’s me esperando pra qualquer momento, meus livros suportando qualquer carência súbita.

Tenho saudade dos amigos, da praia, do trabalho, das músicas brasileiras, do cheiro do Brasil, do cheiro de gente de verdade. Tenho saudades de sentir liberdade sem responsabilidade irresponsável. Eu tenho saudade de jantar com meus pais, conversar com o meu irmão, incomodar o pessoal do gabinete, de rir das reclamações do Jair, de papear com as tias na Cabeçuda, de passar horas revendo Sex and The City sem compromisso algum ou dormir no sofá de casa sem hora pra acordar. Tenho saudade de um vinho bom, de tomar café com a vó, de ouvir o pai e mãe e, até, de brigar com ela, tadinha. É que eu amo tanto tanto tanto, e agora, nessa vontade toda, ta tudo explodindo em lágrimas. Mas passa, eu sei que passa, basta uma esperança de estabilidade e as coisas se encaixam num instante, daí transformo tudo pra que seja a melhor viagem da minha vida, até vir a próxima, porque, sabem, se não tiver toda a intensidade do mundo, pra mim não vale. É a emoção né, pai?!